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Quebrando Paradigmas (III)

Budismo
Temos ainda na Índia o surgimento de outra corrente de pensamento que é o Budismo, mas apesar de ter sido “criada” na Índia, hoje tem repercussão e importância maiores na China, na Coréia e no Japão.
O fundador do budismo foi Sidarta Gautama, príncipe filho de um raja que nós já conhecemos a história, quer através de livros como Sidarta de Hermann Hesse, quer de filmes como “O PEQUENO BUDA”, mas não custa lembrar alguns fatos importantes de sua vida.
Com medo que seu filho visse as necessidades do povo, uma vez que uma profecia avisa que se isso acontecesse ele abandonaria o mundo totalmente, o raja o isola do mundo exterior do palácio, dentro de muralhas. Nesse mundo Sidarta recebe delícias e prazeres e casa-se com sua prima.
Aos 29 anos, desobedecendo aos anseios de seu pai acaba por fugir do palácio e encontra um velho, um homem doente e um cadáver em decomposição, Percebeu que a vida é mais que os prazeres e a existência vazia que tinha. Sem se despedir deixa o pai, a mulher e o filho e renuncia à vida que tinha até então. Sai pelo reino, procurando uma resposta sobre a transcendência da vida e acaba se deparando-se com os ascetas, esse comem quase nada, efetuam exercícios físicos e flagelos, segundo uma das lendas, ele chegou a sobreviver alimentando-se apenas com um grão de arroz por dia. Vemos que procurou inicialmente o caminho dos Vedas, o sacrifício, mas esse não mostrou solucionar o problema existencial que tinha, com isso adotou o “caminho do meio”, ou seja a Meditação (Upanishads).
Aos 35 anos , sentado sob uma figueira meditando alcançou a iluminação, descobriu que o sofrimento do mundo baseia-se no desejo, suprimindo o desejo podemos escapar do ciclo de reencarnações, transforma-se num Buda, um iluminado. Após 8 dias e noites meditando sob a figueira atinge o ápice da meditação, chegou ao nirvana, dominando seu desejo e, com isso deixando de produzir carma, saindo efetivamente do ciclo de reencarnações, estava pronto para abandonar esse mundo e entrar no nirvana final, entretanto Brahma pediu-lhe que ensinasse à humanidade o que aprenderá e, movido pela compaixão pelos homens, Sidarta aceita a incumbência tornando-se guia dos seres humanos.
Originário do meio hindu, a procura pelo cessar do ciclo das reencarnações é o principal também no budismo, mas um ponto ele tem diferente do pensamento hindu geral. O hinduismo crê que o homem tem uma alma que migra entre as diferentes reencarnações, assim como se trocasse de roupa a cada nova vida, já o budismo acredita que não temos alma, que o “eu” é uma ilusão (maya) provocada pela força do desejo.
O Budismo está calcado sobre 4 verdades proferidas por Buda no chamado Discurso de Benares.
Primeira nobre verdade, tudo é sofrimento no mundo, se estamos onde não gostamos sofremos, se nos separamos do que gostamos sofremos, “nascer é sofrer, envelhecer é sofrer, morrer é sofrer”, o sofrimento é mais que desconforto físico ou mental, a própria existência em si é sofrimento, pois tudo é passageiro. O budismo acredita na família, nos relacionamentos, mas simplesmente explica que nada vai durar.
Segunda nobre verdade, o sofrimento é causado pelo desejo, ele, o desejo nunca pode ser saciado, gerando-nos um sofrimento. O desejo de viver leva ao sofrimento, pois sabemos que iremos morrer, em contra partida o desejo de morrer também, pois crê numa existência de alma que perdurará à morte, o que é falso e portanto leva ao sofrimento, não nos esqueçamos que o sofrimento é o próprio ciclo reencarnatório.
Terceira nobre verdade, pode-se interromper o sofrimento interrompendo o desejo com o conhecimento, a forma de suprimir o desejo é atacar a ignorân-cia, geradora do desejo.
Quarta nobre verdade, prega que a única forma de se ver livre do sofrimento e conseqüentemente do ciclo reencarnatório é o caminho das oito vias.
Essas oito vias são, resumidamente:
1- perfeita compreensão – como é a ignorância do homem que põe a roda da vida em movimento e o ciclo das reencarnações, este deve compreender como o mundo funciona, enfatizando-se o aprendizado nos ensinos de Buda e que o corpo não tem alma;
2- perfeita aspiração – colocando Buda como ideal a ser seguido, o homem deve lutar contra o desejo, raiz de todo o sofrimento;
3- perfeita fala – o homem deve evitar a mentira, não fazer intrigas, estando também nesse pondo o silencio como fala perfeita;
4- perfeita conduta – basicamente é seguir os mandamentos do budismo, não matar nenhum ser vivo, não roubar, não ser sexualmente promíscuo, não mentir e não tomar estimulantes;
5- perfeito meio de subsistência – escolher um trabalho que não agrida os mandamentos anteriores;
6- perfeito esforço – evoca a luta íntima afastando pensamentos ou ações ou estados de espírito destrutivos;
7- perfeita atenção – autocontemplação objetivando alcançar o controle do corpo e da mente, habilitando-nos à última via, ou seja;
8- perfeita contemplação – meditação propriamente dita que nos eleva ao nirvana.
Foram essas as lições que nos passou o Sidarta Gautama, mas após a institucionalização da religião budista, que temos?
No campo filosófico já nos deparamos com algumas contradições entre Buda e seus seguidores, para Ele os deuses (Vishnu, Kali, Indra, ou qualquer outro), a exemplo do próprio homem, têm uma vida transitória atrelada ao ciclo dos renascimentos, Buda não adorava nenhum Deus apesar de reconhecer que Brahma lhe houvera dado a missão de difundir seus ensinamentos. No entanto hoje nos países e templos budistas espalhados pelo mundo, é comum encontrarmos imagens de deuses cultuados, além de todo um panteão de espíritos e demônios que interferem na vida material dos adeptos facilitando-a, se cultuados de forma correta. Vemos também muitas imagens de Buda, umas enormes erigidas não para culto ou adoração, mas para lembrar seus ensinamentos auxiliando na meditação e na vida religiosa de forma geral, e que acaba sendo cultuado pelo cidadão comum.
Pouco após a morte de Buda houve, já entre seus monges, uma ruptura originando 2 Budismos (?), a Theravada, ou “a escola dos antigos”, e a Mahayana, ou “o grande veículo”, enquanto aquela permite apenas aos monges a salvação e vêem a Buda como apenas um guia para os seres humanos, essa o transforma no SALVADOR, facultando a todos, monges e leigos, a possibilidade de redenção. Theravada também é tida com “a pequena nave”, por facilitar a poucos o nirvana (alguns monges apenas), já Mahayana chama-se “o grande veículo” por proporcionar a salvação geral. Mas a divisão não para ai, surge o Budismo Tibetano, mais conhecido como Lamaísmo (do termo “lama” que quer dizer mestre) que tem como figura principal o Dalai-Lama e mais uma vez deparamo-nos com choques entre o religioso e o mundano, em 1959 um país budista, a China, “incorpora” o Tibet como seu território e persegue os monges budistas numa mini guerra religiosa, expulsando-os de vez. Que temos? Quebrada mais uma vez a regra de Buda da “PERFEITA CONDUTA”, “roubando” um território que não é seu, a quebra também do “não matar nenhum ser vivo” e por ai vai...

Zen-Budismo
Surge ainda, recentemente o Zen-Budismo, na verdade de origem chinesa e que hoje permeia diversos países, inclusive ocidentais, sendo mais numeroso no Japão e Coréia.
É uma tentativa de resgate do início, retorna às origens. No zen-budismo é realçada a “visão direta” em si própria, ou seja, é importante a iluminação de Buda, os textos escritos após esse instante passam a ter caráter secundário. Na realidade, dentro do Zen a palavra é tida como incapaz de transmitir conhecimento que deve vir de dentro do indivíduo. Os ensinos de Buda nos mostram um caminho para a iluminação até um ponto, mas o importante é a iluminação em si. O Zen-budista crê que a iluminação pode chegar de forma espontânea, instantânea, a pessoa acorda do “sono” em que está mergulhada, passa a en-xergar o mundo de outra forma e,... pronto! A meta é esvaziar-se de palavras e idéias, rompendo com o raciocínio lógico até atingir o subconsciente e a iluminação em si mesma.

Poderíamos escrever um livro apenas relatando tantos disparates em todas religiões, pois todas estão inseridas nessa diferença que existem entre o conceito, ou ensinamento, passado pelo seu fundador e o que aconteceu após a institucionalização do culto em si. E mesmo na diferença entre o cultuado e o executado dia-a-dia.
De forma geral as religiões passaram a exercer um caráter marcante nos núcleos humanos onde se desenvolveram, chegando algumas a ser considerada religião de estado, como é o caso do Xintoísmo no Japão imperial, ou mesmo do Catolicismo na idade média. Isso acabou por ocasionar bloqueios à expansão de novas idéias, sufocando-as mesmo no nascedouro.
Acabamos por ter homens endeusados, quer no cristianismo, quer no budismo, quer no xintoísmo, ou em qualquer outra, levando–nos à tolice maior de atribuir-lhes poder divino sobre a vida e a morte. Tudo isso culminou com o embotamento de nossa razão no mergulho em um “sono” coletivo que perdura até os dias de hoje.

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