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Quebrando Paradigmas (II)

Vamos analisar agora algumas doutrinas orientais, algumas anteriores às citadas e geograficamente com abrangência diversa daquelas, mas com grande repercussão no povos em que foram criadas e se fortaleceram.

Hinduísmo
Cerca de 80% da população da Índia é hindu. Diferentemente do cristianismo, budismo e outras, o hinduísmo não possui um fundador, um codificador, não tem credo nem mesmo organização de qualquer espécie, com isso adapta-se a novos conceitos ainda que de outras religiões. As raízes do hinduísmo surgi-ram cerca de 1500 a.C., através da subjugação do vale do Indo pelas raças arianas, os Vedas, esses trouxeram suas ligações com os povos indo-europeus, o que podemos notar através dos cânticos e hinos védicos recitados pelos sacerdotes durante os rituais aos diversos deuses, sim, diversos deuses, o hinduísmo é uma religião politeísta.
Cerca de 1000a.C. e 500a.C. vemos o surgimento dos Upanishads, são textos feitos à forma de diálogo entre o mestre e o discípulo e ensinam toda a religião hinduísta, o que é Brahman, força vital mantenedora do cosmos de onde vem toda a criação e para onde tudo retorna no final.
Como dissemos anteriormente o hinduismo não possui uma forma explícita de culto ou ritos, fazendo parte apenas os sacrifícios rituais, então passamos a encontrar uma variedade muito grande de forma e movimento dentro dele mas, todas essas formas, possuem ao menos três pontos de convergência, quais sejam, as castas, as vacas (é, isso mesmo, vacas) e o carma.

Castas
O termo “casta” é uma denominação portuguesa, na Índia o termo correto é jati que significa “nascimento”, determinando que o nascimento enquadra a pessoa na casta que pertence, irremediavelmente. Existem atualmente mais de 3 mil castas na Índia, mas no início, ou antes, antigamente, pois não se sabe quando esse sistema teve inicio efetivo, haviam apenas 4 classes sociais, quais sejam: *sacerdotes, *guerreiros, *agricultores, comerciantes e artesão e *servos.
Cada uma das 3 mil castas possui uma forma específica de ritual sagrado, desde forma de comportamento, de regras de alimentação, com quem se pode casar e que trabalhos se pode realizar.Bem, resumidamente, o sistema de castas visa manter a pureza, aliás, a base religiosa hindu está contida nos conceitos de “pureza” e impureza”, diferentemente do “bem” e “mal” ocidentais. Para um brâmane tudo que tem a ver com coisas materiais ou corporais é impura.
E é justamente esse conceito de pureza que determina ou gerencia a divisão de trabalho na comunidade, ou seja, o sistema de casta como um todo.

CarmaOs hindus crêem na Reencarnação, ou melhor, na metempsicose que é a reencarnação em animais também, após sua morte você irá renascer ou na mesma casta, ou numa casta mais superior, ou numa inferior, ou mesmo num animal. Diferentemente de algumas religiões ocidentais que crêem em reencarnação e que veremos mais à frente, no hinduismo o ciclo da reencarnação pode e deve ser tratado pela própria alma, ou melhor, uma vez que possuímos o livre-arbítrio temos condições de modificar nossa próxima vida, através dos atos que praticamos nessa.Para o hindu o que rege esse sistema é o KARMA, palavra sânscrita que significa “ato”, sendo que nesse caso não se restringe a pratica formal, mas ao pensamento, palavras e sentimentos. Todas ações têm conseqüência na vida futura do indivíduo.
Os conceitos de reencarnação, de livre-arbítrio e “karma”, não são exclusividades no hinduismo, mas nele o grande diferencial está no fato que todos os “atos”, e somente eles, formam a base para a vida futura portanto o ciclo de reencarnações deixa de ser punição ou recompensa por boas ou más ações, é apenas uma lei impessoal e natural à qual todo estamos vinculados.
Como já dissemos, o individuo deve utilizar-se de seu livre-arbítrio para melhorar sua posição na próxima vida, isso no hinduismo é atingido através de três vias básicas, mas não exclusivas, o hindu pode mudar sua vida futura através do sacrifício, do conhecimento e da devoção.
No SACRIFÍCIO, tanto o oferecido aos deuses quanto ao sacrifício próprio, daí encontrarmos os ascetas que se flagelam e torturam. O caminho do sacrifício surgiu na época dos Vedas.
Nos Upanishads temos como idéia principal que a ignorância é o real motivo que prende o homem ao ciclo das reencarnações. Adquirindo portanto o conhecimento da natureza da vida ele poderá salvar-se.
O CONHECIMENTO a ser adquirido, e entendamos aqui adquirido profundamente, é que tudo é Brahman, desde o homem até as plantas e demais seres viventes, nós possuímos uma alma (atmã) que é uma emanação de Brahman. O objetivo principal portanto é unir-se ao Brahman quando ainda estamos encarnados e adquirir consciência total essa união, quebrando assim o ciclo reencarnatório.A DEVOÇÃO (bhakti) como caminho real de evolução surge por volta de 600a.C. com o surgimento do Bhagavad Gita, livro filosófico e sagrado que atualmente ocupa lugar supremo junto à religião hindu. O aspecto central ainda é a “quebra” do ciclo de reencarnações, mas diferentemente dos sacrifícios (Vedas) ou do conhecimento, meditação e contemplação (Upanishads), o Bha-gavad Gita propõe-nos a devoção como instrumento para redenção. Realizar tarefas em nome do Deus, sem interesse ou comércio com as coisas divinas, eis o caminho. Por isso não condena ou abomina os demais caminhos acima, mas desde que feitos sem interesse de recompensa, é a caridade na sua forma simples, ajudar sem esperar ajuda ou retorno do ato realizado, afinal em qualquer dos três caminhos sempre temos o Brahman como emanação de principio vital e força mantenedora de tudo quanto existe. Basta ao crente devoção a Deus que, por misericórdia desse, será salvo. Outro ponto de crucial importância é que qualquer pessoa, de qualquer casta poderá alcançar a misericórdia e salvar-se, bastando devotar-se a Deus. É algo como a democratização da redenção.
A VACA
Ela é tida como animal sagrado dentro do hinduísmo, sendo inclusive adorada em certas festas religiosas. Em termos religiosos elas são mais limpas que um brâmane assim uma pessoa que consiga tocá-la está ritualmente limpo. Tanto o leite, como a manteiga, é utilizado em rituais de purificação. Na verdade a vaca está entre outros animais adorados pelos hindus onde figuram também o macaco, o crocodilo e a cobra. Em princípio parece-nos, aos ocidentais, que num país que tem mesmo problemas com a fome e a baixa nutrição retirar a carne bovina de seu cardápio seja meio sem propósito, entretanto a vaca ocupa, na cadeia produtiva indiana, papel importante sendo utilizada como tração animal para arado, transporte, etc.
Superficialmente temos uma religião politeísta, ou seja, adora diversos deuses. Esses deuses existem em todas as aldeias, sendo que muitas têm seu deus particular. Mas estudando-se mais a fundo passamos desse conceito politeísta para a adoração em duas divindades em maior grau, são elas Vishnu, deus amigo representado como sendo um lindo jovem, esse deus enviou emissários para trazer à pessoas formas de se desenvolverem, sendo dois os maiores desses “avatares”, Krishna e Rama. O outro deus é Shiva tido como um deus dual, pois espalhas as doenças e a morte, mas traz também as curas, é cultuado como deus da meditação e dos iogues, sendo por isso representado geralmente como um asceta.
Em meios aos estudiosos encontramos uma trilogia onde temos: Brahman, o criador eterno,Vishnu,o eterno sustentador que mantém a ordem e as leis;
e Shiva odestruidor, que a cada era destrói o mundo
para novo recomeço, mas esse aspecto é totalmente ignorado pela massa popular.Existem também deusas dentro do panteão hindu, sendo a mais conhecida Kali, a deusa negra que tem um lugar de destaque dentro desse panteão, uma vez que encontramos diversas vezes imagens suas pisoteando Shiva.

Desde tempos imemoriais a vida de um homem foi dividida em quatro estágios a saber, Primeiro estágio que perdura até os 8 anos quando o menino passa pelo ritual iniciático onde é tido como nascido de novo, torna-se discípulo e é entregue a um guru para que estude os textos sagrados.
No Segundo estágio passa a ser um Pai de Família, constitui um lar, casa-se, cumpre os deveres da casta e os religiosos, esse estágio perdura até que seus netos comecem a crescer.
Terceiro estágio, sozinho ou em companhia da esposa retira-se para um lugar isolado, geralmente um templo ou monastério, – é o estágio contemplativo.
No
quarto estágio, e nesse uns poucos chegam, passando a ser considerado homem santo, ou sejam o divino faz morada nele, então não tem mais propriedades, não possui mais laços de castas e vive com o que lhe dão de esmola, usando seu tempo para um autoconhecimento.
Bem vemos como é complexo o sistema religioso da Índia, sobretudo quanto aos deveres e divisões de casta, mas ao nosso estudo basta de fato que apesar de todas essas separações, leis, deuses e formas rituais, a Índia atual não pratica na sua totalidade os ensinamentos de um Krishna, ou mesmo as lições de um Upanishad. Apesar da necessidade pregada pela religião de fuga do ciclo reencarnatório através dos passos acima descritos, e que em última instância nos remetem ao contato com Deus e à evolução, ainda vemos os hindus guerreando contra o Paquistão, numa guerra religiosa contra os mulçumanos, vemo-los desenvolvendo a energia nuclear, abertamente também a bomba atômica, um país cuja principal religião tem reverência a toda forma de vida pois “tudo é o Brahman” armando-se para poder lutar, sem contar o assassinato de monges budistas e outras tantas atrocidades.

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